A importância da literatura juvenil
Foi com muito entusiasmo que recebi a notícia da premiação do Jabuti de 2022 na categoria Juvenil para o livro Romieta e Julieu: tecnotragédia amorosa, da produtiva e generosa Ana Elisa Ribeiro. Não apenas por tê-la como referência acadêmica e (gosto de considerar) amiga, mas pela importância dessa obra e relação com a minha própria história, que explico a seguir.

Meu avô materno possuía uma extensa e chiquérrima biblioteca, na qual, entre o acervo, achava-se a quase completa coleção da Biblioteca de Ouro da Literatura Universal. Logo cedo, tive contato com esse tesouro e me apaixonei principalmente pela edição de Romeu e Julieta (e de Noites Brancas, do Dostoiévski).

A história conferiu repertório ao meu intenso romantismo adolescente, agravado pelo VHS do Leonardo de Caprio lindíssimo de Romeu.

Outro livro que marcou (sem trocadilhos) minha iniciação na literatura foi A marca de uma lágrima, do Pedro Bandeira. No enredo, ele traz uma referência incrível da poesia de Fernando Pessoa, que logo virou minha obsessão. E sobre isso, lembro como era difícil a vida do leitor no início dos anos 2000, carregando uma pesada encadernação de poemas improvisada na impressora do colégio.
“A Isabel é fingidora, finge tão completamente que chega a fingir que é amor, o amor que deveras sente…”

O que quero dizer com essas digressões autobiográficas é que a literatura juvenil, quando rica, pode funcionar como uma excelente iniciação cultural, estabelecendo pontes entre as vivências (não raro intensíssimas) do/da jovem e drogas mais pesadas. E que alegria poder contar com nomes brasileiros na construção dessas experiências anônimas mas tão significativas.