
A mulher e o jabuti
Ontem saiu a esperada lista de finalistas do Prêmio Jabuti, que é promovido anualmente pela Câmara Brasileira do Livro. Em uma rápida pesquisa na internet, cheguei a um número no mínimo perturbador: menos de 20% dos mais de 100 prêmios de melhor romance foram para mulheres.
Essa estatística nos leva a duas discussões: a primeira delas, a respeito de como tem sido difícil para as mulheres publicar no Brasil (e no mundo). Sobre esse ponto, recomendo fortemente o clássico “Um teto todo seu”, da Virginia Woolf, e o recém lançado “O ar de uma teimosia”, da querida Ana Elisa Ribeiro. No primeiro, escrito na década de 1920, a autora discorre sobre a necessidade de as mulheres terem liberdade econômica e pessoal para criar. Pode parecer uma discussão já superada, mas, quando pensamos nos dados recentes do IBGE sobre trabalho doméstico e a loucura que tem sido para as mulheres o período de isolamento, vemos que ainda não evoluímos tanto assim.
Já no livro da Ana Elisa são narradas as “dificuldades e possibilidades — escassas — de três escritoras do século xx (Clarice Lispector, Lúcia Machado de Almeida e Henriqueta Lisboa) terem seus escritos publicados por editoras nacionais”. E aí retomamos os números iniciais: se era tão difícil publicar no século passado, as chances de concorrer a (e ganhar) prêmios, então, são ainda mais minguadas.
A outra inquietação tem a ver também com uma escolha pessoal. Nos últimos tempos, tenho dado prioridade a autoras em minhas leituras e, frequentemente, encontro resenhas que versam sobre a tal “literatura feminina”. Segundo o wikipedia, “literatura voltada para o público feminino em geral”. Me pergunto o que seria isso, por que mulheres teriam o “privilégio” de uma literatura voltada para si. Penso que os temas discutidos nesses livros são (ou deveriam ser considerados) universais, seja porque não discutem gênero, seja porque discutem. Afinal, por que só a literatura masculina é “literatura” e só?